Dia das Crianças – Quando a educação ética na infância influencia no comportamento corporativo
Pitágoras disse: “Eduquem as crianças, para que não seja necessário punir os adultos”. Em outras palavras, alguns comportamentos indesejados podem ser ajustados na infância e torna desnecessária a punição posterior, uma vez que o comportamento indesejado sequer ocorre. Dessa afirmação, podemos extrair que a educação recebida na infância, reflete na vida adulta. É natural do ser humano querer evitar a dor. Quando uma criança quebra algo e conta para os pais que o objeto quebrou sozinho, a prioridade não é mentir ou enganar os pais, o objetivo é evitar a consequência da dor: a bronca, o castigo ou violência física (o que infelizmente ainda ocorre em nossa sociedade, em nome da “disciplina”).
No seio familiar, além da tendência natural de evitar a dor, podemos observar exemplos (que ensinam mais do que sábios conselhos): A família pode induzir práticas antiéticas. Por exemplo, verificar o troco do mercado e não devolver a quantia excedida (vantagem indevida: ganho patrimonial, que inclusive é crime! Artigo 169, Código Penal: “Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por erro”), quando alguém chama no portão da residência e a mãe manda a criança dizer que não está em casa (vantagem indevida: mentira para poupar trabalho) ou qualquer outro comportamento que resulte em conduta antiética ou vantagem indevida: furar fila, captação clandestina de sinal de TV, comprar produtos falsificados…
Uma criança pode crescer vendo que é natural ou até mesmo necessário tais condutas. Muitas vezes é necessário ter uma certa sagacidade para a obtenção das vantagens indevidas. Ser sagaz é importante, até mesmo para a própria proteção, mas tal sagacidade, não deve ser utilizada de forma inapropriada. Um dos primeiros ambientes que frequentam, a educação prévia poder ser revelada na forma de ações: pegar material escolar dos colegas ou colar nas provas. Num primeiro momento, após o resultado de uma nota 10, a criança até pode ver os benefícios da vantagem indevida: elogios, lazer ou benefícios patrimoniais. Muitas vezes a conduta por ser vantajosa e o risco, assumido.
Imagina o aluno que gostaria de ter os benefícios de um boletim repleto de notas 10 e leva o celular para as provas. Por meio de um dispositivo indevidamente utilizado, ele buscou uma vantagem indevida. Esta é a conduta do caso Diselgate: um escândalo da gigante Volkswagen, em 2015, no qual o governo dos EUA descobriu um software instalado na central eletrônica dos carros da Volkswagen que alterava as emissões de poluentes nesses veículos apenas quando são submetidos a vistorias de conformidade.
Por isso, neste Dia das Crianças a Missão Compliance gostaria de destacar a importância da educação na vida das crianças e adolescentes, para que se tornem adultos praticantes de condutas éticas, sem a vontade de obter algo de forma indevida. Assim como o mau exemplo influencia na construção da personalidade, o bom exemplo também.
De certo, o papel do Compliance nas organizações é promover uma cultura que atenda aos melhores padrões de conformidade, ética e transparência, mas, por mais que o Programa de Compliance na organização seja robusto, a personalidade dos colaboradores, principalmente aqueles que negociam com o Poder Público ou com outras empresas, podem impactar a organização com denúncias de condutas antiéticas, desencadear processos de investigação, processos judiciais e até mesmo arruinar a reputação perante os stakeholders.
Referências:
“Prevenção e repressão da criminalidade” – página 130, Orlando Soares – Livraria Freitas Bastos,1983.
Ligia Calixto – Analista de Compliance